Bruno Munari, cores e o início de uma nova perspectiva
- Amanda Braga
- 11 de jun.
- 4 min de leitura
Atualizado: 13 de jun.
Mal comecei a Arquitetura, e já me vi impactada por dois encontros inesperados: Bruno Munari, com sua metodologia quase poética. E as cores, que ganharam novas camadas no meu olhar.
Antes de entrar na graduação em Arquitetura e Urbanismo, eu já vinha de uma trajetória sólida no design gráfico. Acostumada a briefings, brainstorms, mapas mentais e fluxos criativos, achei que seria um semestre tranquilo, e de certa forma, foi. Mas também foi muito mais profundo do que eu esperava.
Na disciplina de Metodologia de Projeto, me surpreendi ao reencontrar muitas ferramentas que já aplicava como designer. Mas algo me prendeu com mais força: a metodologia de Bruno Munari.
A clareza, a simplicidade e, ao mesmo tempo, a profundidade com que Munari organiza o processo criativo foi um divisor de águas pra mim. A forma como ele desmonta o projeto em partes, reconstrói com intenção e traduz ideias em função... foi como ouvir em palavras tudo aquilo que eu sempre senti na prática. Sabe quando algo faz tanto sentido que parece que sempre esteve com você, mas você só não tinha nomeado ainda? Foi assim.
Foi ali, ainda nos primeiros meses da graduação, que desenvolvi um dos trabalhos mais instigantes do semestre: dar novos significados a um objeto simples do cotidiano.
Escolhi um copo de vidro.

Simples, transparente, funcional. Mas, ao aplicar os passos da metodologia de Munari (observação, desmontagem, reconstrução e reinvenção), esse copo se transformou. Aos poucos, ele deixou de ser apenas um recipiente. Começou a ganhar novas possibilidades, novos propósitos, novas histórias.

Analisei sua forma, explorei usos alternativos, imaginei versões que desafiavam sua função original. Em vez de conter, ele passou a sustentar. Em vez de armazenar, ele passou a refletir. Foi como se aquele pequeno objeto carregasse, em silêncio, um universo de ideias esperando para serem reveladas.
Ali, com um copo nas mãos, entendi o poder da desconstrução criativa. E como, quando feita com intenção, ela não é só estética, é pensamento em ação.
Mas a maior virada mesmo veio em Expressão Visual.
Foi nesse estudo que minha percepção mudou, e não de forma teórica, mas quase como uma experiência sensorial. A relação com as cores, que antes era prioritariamente técnica, virou algo bem mais emocional.
Até então, minhas escolhas de cor, tanto no design quanto no imaginário de ambientes, seguiam principalmente essa lógica: tons neutros, mais frios, discretos. Eu buscava a elegância contida, a sobriedade atemporal.
Mas pela primeira vez, me vi investigando um olhar diferente. Nas aulas, fomos guiados pelas harmonias cromáticas com um olhar artístico, quase sensorial. E algo em mim mudou.
Passei a admirar ainda mais o contraste. Comecei a olhar para o vibrante com certo interesse. Cores quentes, combinações ousadas, atmosferas que dizem “cheguei”, tudo isso passou a ter lugar no meu repertório.
Na nossa equipe, o destino escolheu o verde para ser o protagonista da análise, e foi o Kombu Green da Pantone que nos conquistou, ainda trazendo à tona as ideias de elegância e sobriedade.


Mas ainda assim, é um verde. E esse verde profundo e terroso não é só uma cor; é uma sensação, uma história que pulsa entre natureza, refúgio e calma.
Criamos paletas harmônicas e cheias de contraste e harmonia, e foi aí que comecei realmente a perceber como uma cor pode comunicar emoções, transformar um ambiente e ganhar novas nuances quando combinada com outros tons que mudam completamente sua percepção.


Esse exercício virou um convite para olhar além da superfície: cor não é só estilo ou sensação, é narrativa pura. Podendo ser contada de diferentes formas, em um ambiente, de acordo com o arranjo cromático que a acompanha.
Eu, que venho do design gráfico, já entendia a técnica e usabilidade, mas agora vejo que cores relatam sensações em espaços que impactam profundamente quem as vive.
E essa descoberta mudou completamente meu jeito de pensar projetos: um aprendizado que carrego comigo e quero explorar cada vez mais.
Minhas pastas do Pinterest, antes minimalistas, neutras e tendendo ao monocromático, agora possuem tons de azuis, amarelos, laranjas terrosos, rosas, vermelhos, preto e mais... composições que antes eu jamais salvaria. Não deixei de amar os neutros em tons suaves. Mas agora, sei que eles podem coexistir com o impacto visual, e que esse contraste, se bem construído, pode emocionar tanto quanto acolher.
Mesmo com meus anos de experiência no design digital, foi nesse semestre que entendi, de verdade, o poder sensorial e emocional da cor quando aplicada ao espaço físico. Não é só sobre estilo. É sobre sensação. Sobre comportamento. Sobre criar atmosferas que transformam a experiência de quem habita.
Hoje, eu observo essa experiência e vejo: esse primeiro semestre não foi só um início acadêmico. Foi o início de um novo olhar.
Um olhar que se abriu com Munari, ganhou cor com a expressão visual, e agora caminha entre o gráfico e o espacial com mais consciência, mais intenção e mais emoção.
Nada como começar por dentro: um semestre, algumas novas perspectivas… e uma nova maneira de ver o design e a arquitetura.
Minhas referências no Pinterest estão abertas: se quiser explorar as mesmas imagens, cores e atmosferas que vêm me inspirando nesse processo, deixo o link aqui com carinho. Talvez algo ali também acenda algo em você.
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