O que anotei (e questionei) no TCC de um hotel sustentável
- Amanda Braga
- 19 de jun.
- 3 min de leitura
Não imaginava que assistir a um TCC de Arquitetura (o primeiro em minha vida) fosse me marcar tanto. Não era meu projeto, nem minha banca. Mas foi como se uma nova janela tivesse se aberto dentro de mim.
O formando era Rafael. Engenheiro por formação, agora concluindo sua graduação em Arquitetura. Seu projeto? Um hotel sustentável quatro estrelas, proposto para um terreno subutilizado na Cidade Baixa (Salvador - BA, Brasil), onde antes funcionava uma antiga fábrica têxtil. Um lugar abandonado, esquecido, mas cheio de história.

A apresentação teve formato de pitch e durou apenas 20 minutos. Mas, sinceramente? Dava vontade de ouvir mais. Não foi só pelo tema em si, mas pelos caminhos que ele escolheu percorrer.
Ele apresentou estratégias sustentáveis que já conhecemos, como reaproveitamento da água da chuva, uso de materiais ecológicos e painéis solares. Mas o que me fisgou mesmo foi o que veio depois: a gestão sustentável.
Nunca tinha parado pra pensar na sustentabilidade dentro de um hotel por esse ângulo. Rafael falou sobre a capacitação da equipe interna, sobre a cultura ecológica aplicada na operação diária, e isso me fez enxergar o projeto como algo muito mais vivo, mais pulsante, mais sistêmico.

Outra referência que ele trouxe e me pegou de surpresa foi o Hotel Vivood, no Valle de Guadalest, na Espanha. Um hotel modular, com estruturas pré-fabricadas, projetado de forma que, caso o empreendimento não funcione ou precise mudar de local, possa ser desmontado sem deixar rastros agressivos no terreno.
Isso nunca tinha passado pela minha cabeça. E no projeto de Rafael, essa lógica foi incorporada com equilíbrio e intenção.

Claro, também teve aprendizado técnico. Anotei coisas preciosas, como a importância de conhecer as leis de uso do terreno, a força dos diagramas de fluxo bem desenhados, e o quanto é fundamental apresentar a materialização da sustentabilidade e a viabilidade econômica de forma clara e visual. Dicas que vou guardar para o meu próprio TCC.
Mas nem tudo me soou como verdade absoluta, e isso, aliás, foi uma das partes mais valiosas da experiência.
Uma das orientadoras elogiou a coerência entre a fachada e o interior do hotel, dizendo que essa harmonia era um acerto importante. Mas será que sempre precisa ser assim? Saí da sala com essa questão.
Fiquei pensando em tantos projetos que admiro, especialmente no universo do Airbnb, em que a fachada é mínima, até discreta, mas o interior surpreende como um verdadeiro oásis.
E o contraste entre o que se espera e o que se encontra é parte da experiência. Gosto da ideia de provocar surpresa, gerar encantamento. Acredito que isso também pode ser um conceito forte, sobretudo em projetos de hospedagem.
Um exemplo disso são as casas mexicanas divulgadas pelo @transmuro_ no Instagram, que admiro demais. Com linhas retas, espaços internos abertos, e uma mistura linda entre o clean, o moderno, o boho e o vintage... elas carregam essa atmosfera de surpresa e acolhimento que me encanta.
De tudo isso, saí da apresentação com uma certeza: assistir a um TCC é mais do que acompanhar a conclusão de um curso. É observar, refletir e se transformar junto.
Naquela manhã, eu entrei como espectadora. Mas saí como alguém que, sem perceber, já começou a construir o seu próprio projeto, nem que seja dentro da cabeça.
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